Nos casos em que o tratamento farmacológico não produz o efeito desejado, recorre-se a outros tipos de tratamentos na tentativa de cessar as crises ou até mesmo de tentar melhorar a qualidade de vida dos portadores de epilepsia.
A cirurgia
A cirurgia desenvolveu-se, principalmente, a partir dos anos 80 com o avanço da tecnologia nos exames de imagens. A ressonância magnética estrutural e a funcional (SPECT), além do monitoramento em vídeo, permitem fazer um diagnóstico exato do foco epiléptico.
Os pacientes, durante a avaliação médica, são monitorizados 24 horas por dia. Os exames realizados durante as crises fornecem informações para que se estabeleça qual a provável área cerebral em que se originam as crises epilépticas.
No vídeo-eletroencefalografia (vídeo-EEG) é feito o registo simultâneo das crises e do eletroencefalograma. A ressonância magnética permite diagnosticar a presença de lesões no cérebro que possam causar as crises. Com o SPECT cerebral, examina-se o fluxo de sangue no cérebro que na hora da crise pode aumentar e fora da crise, ao contrário, pode estar normal ou diminuído.
Associado aos exames, o paciente passa por testes neuropsicológicos, através dos quais são avaliadas as funções cerebrais, as anormalidades ou disfunções cerebrais, permitindo sugerir quais as áreas envolvidas na geração das crises.
Somente após esses exames é possível afirmar se há um único foco que gera as crises epilépticas, e principalmente, se é possível a sua remoção sem causar prejuízo para outras funções cerebrais. A cirurgia só é realizada se a epilepsia for localizada (focal), não sendo realizada quando a doença é generalizada no cérebro (multifocal). Como em qualquer outra doença, os médicos só optam pela cirurgia quando a expectativa de benefícios supera, em muito, os riscos.
Embora não haja uma idade determinada para a cirurgia, a tendência mundial é de se operar precocemente o portador de epilepsia.
Dieta Cetogénica
Este tratamento é indicado para crianças e consiste numa dieta rica em gorduras, com quantidades reduzidas de açúcares e proteínas, calculada de acordo com a idade e peso do paciente. Aproximadamente, um terço dos pacientes submetidos a este tratamento tem as suas crises controladas, enquanto outro terço apresenta uma melhora significativa.
Trata-se de uma dieta programada que induz o organismo a utilizar uma via metabólica alternativa, produzindo "cetose", a qual consiste na alta concentração de corpos cetónicos no sangue. Em condições normais, o sistema nervoso é fortemente dependente da glicose como fonte de energia, mas em situações de jejum, como no caso da dieta cetogénica, o cérebro passa a utilizar também os corpos cetónicos que funcionam como uma reserva energética, que aumenta a estabilidade cerebral reduzindo as crises epilépticas.
Esta dieta é feita com altos níveis de gordura, sendo pobre em carboidratos e proteínas, fazendo o corpo queimar a gordura para produzir energia ao invés de usar a glicose. Deve ser iniciada em ambiente hospitalar com jejum programado por 24 a 48 horas. Após a indução da cetose, o paciente segue a dieta em casa durante cerca de dois anos, sendo necessário controlar o nível dos corpos cetónicos urinários e a glicemia, três vezes ao dia.
A resposta à dieta é variável, um número significativo de pacientes apresenta diminuição dos episódios de crises e outros, remissão total. Alguns pacientes não apresentam qualquer resposta ao tratamento.
Após iniciada a dieta, os resultados podem ser esperados em até dois meses, indicando-se interrompê-la após esse período, caso não traga benefício ao paciente.
Os efeitos colaterais da dieta referem-se, principalmente, à hipoglicemia, podendo o doente apresentar náuseas, fraqueza, sudorese, vertigem e letargia. Têm sido também relatados o desenvolvimento de cálculos renais, além de diarreia, perda de peso, irritabilidade e complicações cardíacas.
A importância da dieta cetogénica está no fato de que 20% das crianças que apresentam epilepsia têm crises de difícil controlo medicamentoso. O melhor controlo das crises beneficia o desenvolvimento neuropsicomotor e proporciona uma melhoria na qualidade de vida destas crianças.
Terapia VNS (estimulação do nervo vago)
Esta terapia envolve um pequeno aparelho que envia estímulos elétricos ao nervo vago esquerdo localizado no pescoço. O nervo vago é um dos principais elos de comunicação entre o corpo e o cérebro que liberta o estímulo elétrico para o cérebro onde se iniciam as crises. A terapia VNS ajuda a prevenir as irregularidades elétricas que causam as crises.
O processo de implante do aparelho envolve um procedimento cirúrgico simples, o qual significa uma estadia curta no hospital. O gerador de pulso da terapia VNS é implantado sob a pele, exatamente abaixo da clavicula ou perto da axila. Uma segunda incisão pequena é feita no pescoço para fixar dois minúsculos fios ao nervo vago esquerdo através dos elétrodos. Os fios são colocados sob a pele, desde o gerador de pulso até o nervo vago no pescoço.
O aparelho usado nesta terapia não é visível, uma vez que apenas provoca pequenas cicatrizes, as quais desaparecem com o tempo e é geralmente ligado duas semanas após a cirurgia. É programado para libertar estímulos elétricos automaticamente, 24 horas por dia.
A bateria geralmente dura entre cinco e dez anos dependendo da programação da estimulação. Nesse momento, o aparelho pode ser trocado numa cirurgia mais simples, a qual envolve apenas o tórax.
A terapia VNS foi clinicamente provada para proporcionar uma terapia segura ao longo do tempo. Mais de 55.000 pacientes no mundo inteiro, de todas as idades e com tipos de epilepsia variados têm sido tratados com sucesso com esta terapia.
A maioria dos médicos prefere continuar com as medicações sem alteração por alguns meses. Pode ser necessário continuar com a medicação antiepiléptica juntamente com a terapia VNS. No entanto, podendo existir uma redução ao longo do tempo.
Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
Na definição da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a saúde é um estado de harmonia entre as funções orgânicas internas e entre o ser humano e o meio ambiente onde vive. Na natureza, os fenómenos podem ser divididos, de uma forma simplista, em dualidades opostas, denominadas pelos antepassados chineses de ying-yang, que apresentam um estado de equilíbrio dinâmico.
No corpo humano o fluxo ininterrupto e suave das substâncias essenciais mantém as funções adequadas dos órgãos internos e, consequentemente, asseguram as atividades nervosas e mentais, manifestando externamente um estado de saúde e bem estar.
A MTC baseia-se em quatro grandes pilares: fitoterapia. dietoterapia, acupuntura e meditação. A fitoterapia consiste no cuidado das doenças através do uso de plantas; a dietoterapia é o simples uso de uma alimentação saudável e adequada; a acupuntura visa o equilíbrio da energia no corpo através do acesso a pontos estratégicos com o uso de agulhas; a meditação em todo o tratamento é de extrema importância.
A MTC tem por princípio tornar a vida das pessoas mais agradável e saudável gerando um estado de espírito adequado para afastar todos os tipos de doenças. Todas as doenças têm origem nas emoções (estado de espírito), a MTC não procura curar as doenças, mas procura tratar o motivo pelo qual foi desencadeada.
A epilepsia também tem relação com a emoção, e são mais frequentes em períodos de stress, que por si só provoca o desequilíbrio do ying-yang.
O tratamento ideal para a epilepsia seria através de todas as formas, fitoterapia, dietoterapia, acupuntura e meditação. A meditação auxiliaria no controlo da aura (sensação que precede uma crise).
Atualmente, nos centros dedicados a epilepsia na China, usam-se concomitantemente o conhecimento "ocidental" e a teoria chinesa tradicional para o diagnóstico e tratamento. Os principais exames complementares, EEG e os de imagem, e a prescrição de drogas alopáticas são partes indispensáveis na abordagem integrativa. A acupuntura associada ao uso de medicação chinesa tradicional constitui outros componentes dessa abordagem.
Apesar de não possuir ainda uma evidência clínica consistente publicada na literatura médica especializada, acredita-se que a abordagem integrativa usando os conceitos ocidentais e tradicionais chineses pode contribuir no bem estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas com epilepsia, por reduzir o grau de ansiedade e promover a qualidade do sono.




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